segunda-feira, janeiro 23, 2006

Dois mundos e valores Moraes - O TAO de Vinícius

É melhor ser alegre do que ser triste, mas para fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza... senão não se faz um samba não!

O Yin e o Yang dessas duas proposições contraditórias poderiam ser muito bem interpretados pelo bibliotecário do grande Império Chinês (Lao Tzu) como "O ser e o não ser... necessidade da complementariedade... valor intrínseco do vazio (tristeza). A interpretação chinesa para esta frase poderia se tornar tão convincente, que um poderia se perguntar "Que monge o "poetinha" foi!". Só que litros de Whisky ou nove casamentos nunca foram considerados caminhos para a iluminação e a autorealização. Mas teria um sábio a ousadia de interpretar "...É melhor viver do que ser feliz"?

Esta frase uma vez foi requisitada na forma inglesa para a versão musical que Edu Lobo estava compondo (junto com Moraes). O redator americano logo discordou "não, não, não! (no, no, no!)... Está errado (ao pé da letra seria "It's better to live than to be happy"). O certo seria "É melhor viver E ser feliz"". Um chinês responderia o mesmo, baseado no taoísmo. O pulo do gato está no contraste dos pensamentos do Oriente com o Ocidente - O TAO do primeiro está profundamente enraizado nos costumes de repressão dos sentimentos primitivos (dor, alegria, paixão, tristeza, etc.), considerados a expressão de uma alma primitiva. Teria Arjuna, com todo o seu exército, realmente dado fim aos seus semelhantes no Bhagavad Gita ao proclamar, repentinamente para Krishna, sobre o amor ao ego:

...Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama



Minha viagem mágica pelo mundo do TAO de Vinícius de Moraes começa em um ponto de contradição dentro do pensamento TAO tradicional: A passividade não é a única face do equilíbrio - ele também pode se manifestar em extremos que se cancelam mutuamente. Em termos físicos, incluindo Vinícius no Tao da Física, pode-se exemplificar como "equilíbrio estático vs. equilíbrio dinâmico". Externalizar o pensamento fora do intuitivo não é o caos. É pôr em cores a existência humana, é exercer a não-linearidade, maior trunfo da vida; A aleatoriedade, o livre arbítrio e a evolução das espécies - "três faces de uma mesma moeda". Exercer o equilíbrio dinamicamente é criar histórias, é saber que não se avança nem se recede, na vida apenas se traça curvas que não podem ser traçadas novamente. É saber que o maior legado que se pode deixar nesta vida é a saudade.

Saudade não é sentir falta - a pessoa ainda está lá no coração da outra.

Viver o TAO dinamicamente é saber pulsar a energia do corpo, em um ritmo e itensidade próprio. É gerar sintonias e ser sintonizado por outros. É ser um rádio, passivo e ativo ao mesmo tempo. É buscar a alegria e curtir a tristeza.

Só Me Fez Bem

(Edu Lobo e Vinicius de Moraes)


Não sei se foi um mal
Não sei se foi um bem
Só sei que me fez bem
Ao Coração
Sofri, você também (você também sofreu)
Chorei, mas não faz mal
Melhor que ter ninguém (ninguém não coração)
Foi a vida, foi
O amor quem quis
É melhor viver
Do que ser feliz
Foi tudo natural
Ninguém foi de ninguém
Mas me fez tanto bem
Ao Coração

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